Restos do Carnaval
( Clarice Lispector )
Não, não deste último carnaval.
Mas não sei por que este me transportou para a minha infância
e para as quartas-feiras de cinzas nas ruas mortas onde
esvoaçavam despojos de serpentina e confete.
Uma ou outra beata com um véu cobrindo a cabeça
ia à igreja, atravessando a rua tão extremamente
vazia que se segue ao carnaval.
Até que viesse o outro ano.
E quando a festa já ia se aproximando, como explicar
a agitação que me tomava?
Como se enfim o mundo se abrisse de botão que
era em grande rosa escarlate.
Como se as ruas e praças do Recife enfim explicassem
para que tinham sido feitas.
Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade
de prazer que era secreta em mim.
Carnaval era meu, meu.
3 comentários:
Que lindo post!!! Ótimo carnaval!beijos,chica
Sou super fã da Clarice (nos conhecemos há muito tempo, por isso a intimidade rsrsrs)!
Essas imagens deixaram o texto muito mais bonito!
Bjos
Lindo! Nem precisa mais de palavras. dizer o quê?
Bjssssssssssssss, quérida!
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